Não
há como negar que a não utilização do véu por parte de
uma mulher casada durante suas ministrações da Palavra
ou suas orações públicas viola um preceito contido nas
cartas de Sha’ul e quebra uma tradição sagrada do povo
hebreu que remonta às suas próprias origens. Isso, no
entanto não se constitui uma transgressão das mitzvot
deixadas por Mehu’shua ou de quaisquer chukatim (juízos)
dado por meio dos profetas.
Deveria ser claro
para as igrejas que ensinam o uso do véu às suas
mulheres, que embora isso lhes seja meritório esse
mérito se desvanece se outros preceitos bíblicos,
especialmente os que são dados como mandamentos
perpétuos [Ex 20:2-17] são deixados de lado. Ao mesmo
tempo aquelas organizações que objetam o uso do véu
alegando que seu uso era restrito a Corinto deveriam
examinar as Escrituras em seu conjunto.
As Escrituras, pois referem o uso do véu,
mas decididamente não o impõem ao longo do Tanach
(Primeiro Testamento). Sua primeira referência se dá
quando R’oevka que virá a ser a segunda matriarca da
história de Yaoshor’ul, viajando ao lado de Ul’ozor em
direção à terra e Casa de Abrul’han, avista aquele que
por contrato já é seu noivo, e logo será o marido, e se
cobre com o véu.
“E Yatzkh’aq saíra a orar no campo, à
tarde; e levantou os seus olhos, e olhou, e eis que os
camelos vinham. R’oevka também levantou seus olhos, e
viu a Yatzkh’aq, e desceu do camelo. E disse ao servo:
Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso
encontro? E o servo disse: Este é meu amo. Então tomou
ela o véu e cobriu-se.” Gn 24:63-65.
Esse uso sugere claramente
que R’oevka usou o tzaip (véu) quando avistou aquele que
seria seu esposo; mas pode-se adicionar um motivo a
mais: ela percebe que ele está em oração! O ato é
imortalizado na pintura de James Joseph
Jacques Tissot (1836–1902) elaborada entre 1896 e 1892 e
mostra R’oevka, viajando sobre o camelo junto com a
comitiva de Ul’ozor espiando o patriarca e logo cobrindo
sua cabeça ao certificar-se que é ele que está se
aproximando. Trata-se, portanto do gesto de uma noiva
ante seu futuro esposo, em oração. Respeito à ele e ao
momento da reverencia...
Sua segunda referência na Torah ocorre
quando Tamar, retirando suas roupas habituais cobre-se
com um véu e se assenta estrategicamente à entrada das
duas fontes de Timná certa de que conseguirá a atenção
de seu sogro Yaohu’dah, já viúvo e carente da atenção de
uma mulher.
O uso do véu, naquele caso tinha uma
razão específica, ocultar sua verdadeira identidade
diante do sogro a quem decide tomar como marido, devido
ao fato de que esse tardava em entregar seu filho menor
em casamento. Estamos nos referindo naturalmente ao
costume conhecido como levirato, a mitzvah (mandamento)
da halitzá que obriga o irmão a tomar a esposa do irmão.
Note que a cobertura nesse caso vai além de qualquer uso
litúrgico. Ela quer ocultar não apenas sua cabeça e
cabelos, mas também seu rosto, caso contrário sua
tentativa não terá êxito.
“Então ela tirou de sobre si os vestidos
da sua viuvez e cobriu-se com o véu, e envolveu-se, e
assentou-se à entrada das duas fontes que estão no
caminho de Timna, porque via que Shelá já era grande, e
ela não lhe fora dada por mulher” Gn 38:14.
Consumado o ato sexual com seu
sogro. Tamar retira o vestido adquirido para o ato e
também o véu e assume, já grávida o seu papel de viúva.
Fato que por si só prova que nenhuma viúva está obrigada
a usar o véu, embora na cultura portuguesa do Alentejo o
costume seja diferente. Estamos falando nesse caso do
uso bíblico do véu, desobrigado às solteiras e às
viúvas.
“E ela se levantou, e se foi e tirou de
sobre si o seu véu, e vestiu os vestidos da sua viuvez”
Gn 38:19.
Assim, apesar de que consideremos seu uso
imperioso nas comunidade messiânicas, posto que para
elas a Brit Chadashá tem valor canônico e suas
determinações são vistas como obrigatórias somos
forçados a admitir que em nenhum lugar o uso do véu pode
ser enfatizado com uma autoridade idêntica a dos dias
sagrados acima mencionados. Não há nada nas Escrituras
sobre o uso do véu exceto que: “E uma mulher que, em
público, ora ou fala em Shuam (Nome) de UL com a cabeça
descoberta desconsidera o seu marido, porque é como se
tivesse a cabeça rapada. E se ela recusar cobrir-se,
então que raspe o cabelo. Mas, se é uma vergonha uma
mulher ter a cabeça raspada, então que a cubra -
I Co 11:5-6.
No uso das Escrituras devemos aprender a
nunca ultrapassar os marcos daquilo que está revelado.
Note-se que Sha’ul nem mesmo classifica a ausência do
véu como uma desonra ao Criador. Ele é tão enfático que
mostra que uma mulher pode inclusive profetizar com a
cabeça descoberta, o que mostra que não há qualquer
interrupção entre as virtudes do Eterno mediante a
ausência do tzaip, embora deva ficar claro que ao fazer
isso esteja desonrando sua própria cabeça, ou seja, não
lhe é honroso orar sem véu. Isso tem uma
outra implicação:
A mulher não precisa estar o tempo todo
com o véu sob a cabeça por estar num local de reunião.
Essa diretriz é indicada apenas quando ela está orando
ou profetizando, isso é quando ela se levanta para uma
prece pública ou quanto vem à frente para a leitura das
Escrituras ou ora junto à comunidade. Assim, a teologia
do véu desenvolvida por igrejas cristãs pentecostais
como a Congregação Cristã no Brasil ou por ramificações
filiais ou netas da Igreja de Deus do Sétimo Dia
está pois, completamente descontextualizada.
A visão cristã tradicional está errada em
primeiro lugar por que véu é dever para mulheres casadas
e não para virgens. Esse fato transcende a própria
cultura hebraica e se nota entre os mais diversos povos
do mundo.
É importante ressaltar ainda que o uso do
véu é transcultural sendo ele usado por ciganas,
muçulmanas, maronitas, católicas ortodoxas, católicas
romanas, além das mulheres judias, não sendo por isso
mesmo um sinal distintivo para o povo de Ul’him, apesar
de seu uso ser recomendado no culto, até mesmo por
razões sensuais...
O segundo erro que supõe a teologia
cristã do véu é que se a mulher não usar véu ou pelo
menos cabelo longo durante suas orações ela está em
pecado. Tudo o que a carta de Coríntios mostra é que o
uso do véu é honroso. Ora o texto de Coríntios mostra
claramente que a ausência do véu sobre a cabeça mesmo de
uma mulher casada não impede que os dons se manifestem
em sua vida; uma evidência mais do que suficiente para
demonstrar que os dons não estão ligados ao uso do véu.
Na verdade o uso do tizayp (véu) por
parte das mulheres judias durante suas orações ou seu
uso contínuo pertence a um conjunto de tradições que
remontam aos dias de R’oevka que ao se sentir
compromissada com Yatzkh’aq cobriu-se ao vê-lo orando no
campo. A razão disso vai além de fatores culturais. Uma
mulher yaoshorul’ita entende que embora não seja pecado
orar sem véu, os anjos – presentes naquele momento - vêem
o véu como um sinal positivo do respeito dela por seu
esposo.
NOTA: Muitas mulheres não tem um
marido digno desta honra, e, bem poderia usar este
momento para fazer um silencioso protesto, não usando o
véu... Mas, uma ação deste tipo seria muito ostensiva,
gerando inclusive contentadas no lar. Ela bem que
poderia usar o véu - não destoado da congregação - e
displicentemente não cobrir os cabelos totalmente,
deixando a parte frontal à mostra!
Nesse sentido vale ressaltar que é
completamente descabida a idéia de que o véu era
considerado obrigatório em Corinto por razões puramente
culturais. É verdade que a cultura dos povos sempre que
não contrarie a Torah ou os profetas, e que não esteja
manchada com princípios do paganismo é tolerável. De
forma generalizada os crentes evangélicos supõem que o
uso do véu era um costume em Corinto e que Sha’ul não
quis contestar preferindo antes apoiá-lo. Tal
interpretação é completamente equivocada. Sha’ul não
creditaria valor espiritual a um mero costume pagão. O
uso do véu pela mulher judia era algo comum à cultura
nacional de Sha’ul. Logo ele não estava falando de
Corinto especificamente.
Ele não está se referindo ao uso do Véu
em Corinto, mas em todos os lugares onde
anjos ministram, isso é, em todo o mundo. O que se tem
em vista ali não é a cultura corintiana, mas a cultura
escriturística.
“Assim, uma mulher deveria usar a cabeça
coberta como sinal de que reconhece a autoridade do
marido, um fato que todos os anjos constatam” I
Co 11:10.
O véu será usado não por que as mulheres
estão na Grécia, mas por que estão diante dos anjos, e
anjos não limitam seu ministério a Corinto. Logo, não
faz nenhum sentido a argumentação de que véu é costume
local. Uma mulher pode decidir desonrar a sua cabeça ao
orar sem véu, e embora isso não lhe diminua o poder
espiritual, ainda assim não será visto como uma boa
atitude por parte dos anjos que esperam ver nela esse
sinal de submissão em relação a seus maridos. Esta
prática cultural tinha sim sentido espiritual, mas não
era obrigatória senão às casadas e isso quando o marido
era digno dessa honra.
Sha’ul via esse uso como sinal de
submissão da mulher casada diante dos anjos, daí a força
da instituição na sua carta aos coríntios, único lugar
onde a obrigatoriedade do véu é citada; certamente pela
incompreensão deles sobre este assunto (vs. 16). Logo
quando Armstrong deixa isso de lado, está cometendo um
erro, mas nunca tão grave como o das demais “Igrejas de
Deus” que coam o mosquito impondo o véu e engolem o
camelo violando as festas bíblicas perpétuas dadas ao
povo santo, por exemplo.
Jamais um costume, por mais justificado
que seja - e o uso do véu pela mulher casada se
justifica, biblicamente – pode ser comparado à força de
um mandamento inequívoco para que os filhos de
Yaoshor’ul celebrem as Festas [Lv 23] em todas as suas
gerações. Na soma dos erros, embora a atitude de
Armstrong e sua “Igreja de Deus Universal”, não se
justifique, já que a obediência a um mandamento não nos
deixa livres para quebrar uma tradição do povo santo,
ainda assim o saldo lhe é amplamente favorável. Afinal,
pois se violava uma tradição enfatizava um mandamento
muito claro.
“Fala aos bnei Yaoshor’ul (filhos de
Yaoshor’ul), e dize-lhes: As solenidades de YHWH, que
convocareis, serão santas convocações; estas são as
minhas solenidades...” Lv 23:2.
O Eterno não ordenou apenas o shabbos, a
primeira de suas festas, mas outras sete festas anuais
fixas e perpétuas que por todas as gerações anunciariam
seus grandes feitos. Assim, se a “Igreja de Deus do
Sétimo Dia” imitando sua mãe adventista, acumula o
mérito de guardar o shabbos, a primeira das oito festas
bíblicas, lamentavelmente assume o demérito de violar
sistematicamente as outras sete!
Logo, se é verdade que as mulheres da
“Igreja de Deus Universal” compareciam às festas e aos
encontros espirituais sem usar tzaip (véu) sobre suas
cabeças é igualmente verdade que as mulheres da “Igreja
de Deus do Sétimo Dia” usam véu, mas não comparecem às
Festas levíticas. Armstrong pode ter engolido o
mosquito, que as ID estão coando, mas pelo menos ele não
deixou passar o camelo todo!
Não se pode honrar uma bela tradição
judaica, ainda que com seu inegável valor espiritual às
expensas de claros mandamentos. Pelo menos esse não deve
ser o caso quando se pretende ser o único povo de Ul’him
na face da terra. Como no caso dos perushim que
dizimavam até a hortelã do jardim e esqueciam o mais
importante da Torah que era a caridade, cabe uma
paráfrase às palavras de Yaohu’shua: “Deveis usar o véu,
mas sem desprezar o mais importante da Torah que é
santificar os dias dados por Ul’him a Yaoshor’ul”. A
justiça do crente deve preferencialmente ultrapassar a
dos escribas e fariseus, não é?
Amnao!
Veja Também:
https://www.cyocaminho.com/VeuKipa.html
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