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SHEMA YSRAEL, YAOHUSHUA ELOHENU UL, YAOHUH ECHAD! Dt 6:4. Escuta Yaoshor'u! Yaohushua é o nosso Criador; o Eterno é um Só! |
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Investigador profundo do vocabulário inquisitorial: Um dos mais interessantes livros de Elias Lipiner é "Santa Inquisição: Terror e Linguagem". Trata-se de um trabalho original em todo o mundo, no que toca aos estudos inquisitoriais, no qual os leitores de língua portuguesa podem se orgulhar, assim como a intelectualidade de nosso País...
A primeira (e até o presente única) edição do livro é de 1977. Pela matéria que versa e pela forma adotada, este trabalho é a primeira contribuição ao estudo sistemático da ação inquisitorial em Portugal e Brasil, vista principalmente sob o ângulo linguístico. Lipiner observa que o conflito entre a Inquisição e os cristãos novos (marranos), que durou desde o batismo forçado de todos os judaicos em Portugal (1497), até o decreto que extinguia esse tribunal (1821), ocasionou visíveis perturbações na vida social portuguesa da época, com reflexos também na área da psicologia da linguagem. O Santo Ofício da Inquisição vai figurar, assim, entre as causas que produziram a transformação de sentido sofrido pelos vocábulos da língua portuguesa. "É uma causa histórica que escapou até hoje, segundo parece, às várias tentativas existentes de classificação semântica”. O princípio da nova linguagem dos marranos diante do terror inquisitorial vai ser a resistência judaica diante do credo religioso imposto pela Igreja católica. Os judaicos portugueses que receberam o batismo em 1497, em idade adulta, não aceitaram a nova crença livremente (principalmente pelos conceitos advindos do paganismo, inerentes na doutrina da trindade). A essa desconformidade e consequente duplicidade de pensamento religioso, correspondiam gestos e atitudes de dissimulação. O marrano pronunciava JESUS, mas pensava em Moisés. Rezava a Ave Maria com os lábios e o Shemá Yaoshor’ul com o coração. Citava os apóstolos Paulo, Pedro e João, mas invocava de verdade os profetas israelitas Isaías, Jeremias e Ezequiel. Mantidos sempre no regime de pavor e ante à necessidade urgente de exprimir as novas situações e os novos estados psíquicos, não iriam os perseguidos, no ponto de impaciência intelectual em que se achavam, criar vocábulos novos correspondentes a essas necessidades particulares. Era mais fácil conservar o elemento físico dos vocábulos velhos, dotando-os apenas de novo sentido espiritual (este sincretismo já havia sido experimentado pelos negros em relação às suas crenças e o catolicismo – imposto – gerando o que hoje conhecemos como sendo a Umbanda e o Candomblé). Utilizaram-se, assim, dos termos já existentes, renovando-lhes o conceito, estendendo-o ou restringindo-o, na medida do necessário, por meio da associação de idéias, cabível em cada oportunidade. A simulação adotada pelos marranos como forma de sobreviver ao ódio e à discriminação religioso oficial, deve ter gerado mudanças de sentido nos seus meios de expressão. O mesmo parece se aplicar aos inquisidores. Perseguidos e perseguidores intervieram nas alterações sofridas pela psicologia da linguagem de seu tempo, ditando cada qual à sua maneira as leis que regiam esse fenômeno de magia linguística. Num memorial oferecido ao rei Felipe III, em 1600, pelos Inquisidores, estes, referindo-se aos judaizantes, alegam: "Estejam presos ou em terras estranhas, avisam-se uns aos outros, noticiando o que se passa nos autos-da-fé, servindo-se, quando lhes convém, de cifras que só eles entendem”. Outro exemplo documentado sobre o vocabulário secreto dos marranos vem do julgamento do antigo cônsul português na França, Manuel Fernandes de Villa Real, condenado à fogueira e que saiu no auto-de-fé de 1 de dezembro de 1652: "E usando de particulares vocábulos e palavras para se entender com outras pessoas quando fazia ou havia de fazer os ditos jejuns, sem que fossem entendidos ordinariamente, por o sentido comum das ditas palavras ser muito diferente, comunicando estas cousas com pessoas de sua nação apartadas da fé, com as quais se declarava por judeu”. Citaremos a seguir alguns trechos dos vocábulos do livro de Elias Lipiner:
ALGUNS ADÁGIOS INQUISITORIAIS Amarrado ao potro de ignomínia. Diz-se de quem foi vítima de contínuas infâmias e desonras. Frase tirada do tormento inquisitorial do potro, instrumento em que o réu era posto amarrado de cordéis. Basta o sangue sem culpa, e é culpa do sangue. Expressão irônica, condenando os excessos dos inquisidores, para quem bastava uma gota de sangue judaico para presumir culpa de judaísmo. Dá-mo um judeu; dar-to-ei queimado. Nesta frase resumia toda a sua doutrina sobre os conversos Lucero, o primeiro inquisidor de Córdoba, de alcunha "O Tenebroso". Mais breve é o caminho do tribunal aos cárceres, que o da Europa à Índia, China e Japão. Ironia contra os inquisidores que mandavam missionários para converter infiéis em longínquas terras, mas não prestavam o mesmo socorro espiritual aos presos nos cárceres, suspeitos de heresia. Adonay, Adonai. Palavra hebraica significando Mestre ou Deus (com o objetivo de esconder o verdadeiro Nome – bíblico – do Criador Eterno), que aparecia com frequência nas declarações e nas rezas dos cristãos novos redigidas em português. Nos anos imediatamente posteriores ao estabelecimento da Inquisição, a língua hebraica ainda vivia na boca dos cristãos novos. No dia 31 de maio de 1541 foi denunciado perante a Inquisição de Lisboa, Pedro Afonso, já defunto, que fora pelo delator "encontrado de uma vez a rezar em hebraico”. Aos poucos, porém, a língua hebraica das rezas foi sendo esquecida, dela ficando apenas alguns vocábulos introduzidos nos textos das orações compostas já em vernáculo, destacando-se assim o vocábulo Adonai, inserto frequentemente nessas rezas. "No dia 18 de fevereiro de 1561- refere A. Baião, resumindo uma denúncia feita perante a Inquisição de Lisboa - Manuel Marques, cristão-novo reconciliado, denunciou que, estando doente de cama na casa de suas tias Isabel Pires, Helena Gomes e Gracia Fernandes, pediam-lhe para ele ler um escrito onde havia letras hebraicas e faziam jejuns judaicos a fim d'ele melhorar. Duas delas, depois de lavarem as mãos, puseram-se junto da cama, sentadas no chão, a rezarem uma oração de que ele só percebeu: Adonay Rei, Adonay Reynos”. Na sentença dada contra o célebre matemático André de Avelar, que saiu no auto-da-fé celebrado em Coimbra a 18 de junho de 1623, condenado à pena de cárcere perpétuo em remissão, consta que durante as cerimônias judaicas de que o réu participava, como um dos oficiantes, numa sinagoga oculta, pronunciava a palavra "Yaohuh com admiração e outras palavras em hebraico, as quais repetiam os circunstantes”. Ajudengado, judengo. À maneira de judeu; que tem modos de judaísmo. No Cancioneiro Geral organizado por Garcia de Resende (1470-1536), figura um poeta que, censurando a influência dos judaicos de seu tempo na vida social portuguesa, e "os seus modos viventes", diz: "Não guardamos nossa lei de hol’Mehuskyah, como cristãos bem fiéis. Nem servimos nosso rei senão de serviços vãos e revéis. Isto faz o praticar nossas maneiras judengas..”. Igualmente, no dia 21 de agosto de 1591, uma delatora brasileira levou ao conhecimento da Mesa da Visitação na Bahia, que a mãe já falecida de Mecia Roiz, e sogra do célebre sertanista Garcia Davila, "fazia cousas de judia e a ela denunciante lhe pareceram sempre mal os modos dela que eram ajudengados”. Marranos. Marranos, pois, na definição do panfletista(6), não são os que sinceramente adotaram o catolicismo, comportando-se como os "cristãos lindos", mas unicamente os que, embora batizados, continuavam porém amarrados à sua lei e a seus rabinos, marrando (dando marradas, cornadas) na lei nova. Um outro panfletista, autor da Sentinela contra os Judeus, escreve: "Porque entre os marranos ou marrões, quando grunhe ou se queixa algum deles, todos os demais acodem ao seu grunhido, e como assim são os judaicos, que ao lamento de um acodem todos, por isso lhes deram o título e nome de marranos". (...) As derivações mais remotas e mais aceitáveis, sugerem a origem hebraica ou aramaica do termo. Mumar: converso, apóstata. Da raiz hebraica mumar, acrescida do sufixo castelhano ano derivou a forma composta mumrrano, abreviado: marrano. Tratar-se-ia de um vocábulo hebraico acomodado às línguas ibéricas. Marít-áyim: aparência, ou seja, cristão apenas na aparência. Mar-anús: homem batizado à força. Mumar-anus: convertido à força. Contração dos dois termos hebraicos, mediante a eliminação da primeira sílaba. Moharám atá: Tu és um excomungado. Nomes Secretos de judeus: O Monitório de 1536 ordenava que fossem denunciadas como judaizantes as pessoas que "Quando nasceram ou nascem seus filhos se os circuncidam e lhes puseram ou põem secretamente nomes de judaicos”. Revela-se, assim, a existência, entre os cristãos novos, de nomes judaicos mantidos em segredo. Nos papéis da Inquisição ou do período pré-inquisitorial, consigna-se às vezes tal duplicidade de nomes, aparecendo o nome judeu secreto dos culpados, ou então o nome de batismo traduzido para o hebraico. Assim, em carta de 11 de junho de 1531, o embaixador português em Roma, Braz Neto, referindo-se ao célebre visionário messiânico português conhecido sob o nome hebraico de Salomão Molco, escreveu ao monarca Dom João/Yao'khanan III: "Aqui (em Roma) está um português, que quando lá se tratava como cristão se chamava Diogo Pires”. OBS: Uma estratégia usada pelos marranos era a de adotar um nome português de frutas, objetos e ou árvores para que assim, os seus soubessem que ali existia um judeu. Exemplos destes nomes: Laranjeira; Pereira; Prata; Silvio (silver); Machado; Acássia; Pires; Monteiro; etc. |
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